Friday, January 07, 2011

ACONTECEU EM 2010

2010 foi um ano especial! O Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela /CMVRSA comemorou em Outubro 5 anos de actividade.

Ao longo destes 5 anos o CIIPC tem procurado uma intervenção diferenciadora. Partiu-se das características diferenciadoras do nosso território, dos valores patrimoniais que o distinguem, para a concepção de actividades consistentes, capazes de desencadear dinâmicas de aprendizagem, fruição e intervenção criativa.
O trabalho desenvolvido tem-se orientado em torno de 3 eixos prioritários: investigação; interpretação e valorização; e educação para o património. Temos dois grandes projectos de investigação em curso sobre a presença pré-histórica e islâmica em Cacela e pretendemos avançar com um estudo sistemático do património hidráulico. Temos actividades regulares de valorização do património: exposições, promoção de edições, organização de conversas, conferências, congressos, dinamização de percursos de interpretação da paisagem. Com a comunidade educativa desenvolvemos um trabalho continuado com projectos temáticos e oficinas de criatividade.
Até aqui os grandes desafios têm passado pela procura de novas formas comunicação e interpretação do património, envolvendo a comunidade e visitantes na descodificação activa e participada do território. Desde o primeiro momento temos procurado uma intervenção enraizada na comunidade. Não encaramos a população local apenas como destinatária das actividades, ou como informante nos levantamentos que fazemos ao nível do património imaterial, por exemplo, procuramos sim envolve-la nos processos de investigação, interpretação e valorização do património.
Outro desafio tem passado pela qualificação e diversificação da oferta cultural em Cacela Velha (conversas, cinema, teatro, literatura, poesia, artes plásticas), que tem vindo a ser acompanhada pela necessária requalificação do património do núcleo histórico classificado (igreja e casa do pároco, esta ultima para breve).
Para um futuro próximo as grandes metas passam pela criação de uma rede de núcleos museológicos interpretativos do património, onde Santa Rita com o megalitismo e Cacela Velha com as heranças islâmicas serão pólos estruturantes.
Acreditamos que o trabalho que desenvolvemos só faz sentido se tiver na base uma ampla rede de parcerias e colaborações. Para além dos protocolos que temos estabelecido com diversas entidades, o trabalho em rede começa, nesta área, a dar passos na região com resultados muito positivos, com a Rede de Museus do Algarve que integramos.

Aqui fica o balanço “ilustrado” deste ano que passou, para que possamos recordar os momentos vividos com tanta e boa companhia!

1. INVESTIGAÇÃO

- Continuação do Projecto “Pré-história e Megalitismo em Cacela” com o estudo dos materiais exumados nas escavações arqueológicas no túmulo megalítico de Santa Rita, em colaboração com a Universidade de Huelva.
- Os trabalhos de limpeza e manutenção do sítio arqueológico do Poço Antigo em Cacela Velha (bairro islâmico do período almóada) decorreram ao longo do ano com acções de desvegetação, remoção de construções na envolvente, substituição de geotêxtil e recobertura das estruturas. No dia 8 de Maio, o CIIPC promoveu uma jornada de trabalho aberta ao público em geral, tendo, ao longo da manhã, cerca de duas dezenas de participantes contribuído para a manutenção e valorização deste sítio arqueológico.
- Estudo informático das cerâmicas islâmicas de Cacela Velha, sob a orientação científica da Universidade de Huelva, compreendendo a criação de uma base de dados e estudo histórico da cerâmica (funcionalidades, produções locais, importações e paralelos).

2. VALORIZAÇÃO, DIVULGAÇÃO E USUFRUTO

Passeios e visitas

- “Passos Contados”, o ciclo de passeios pedestres, dinamizado pelo CIIPC/CMVRSA, voltou a mobilizar este ano, na sua 4ª edição, muitas dezenas de participantes. Os percursos iniciaram em Abril com o Mestre José Salgueiro com quem ficámos a conhecer as ervas e os seus usos na medicina popular e alimentação; com o historiador Cláudio Torres descobrimos as heranças islâmicas nas formas de construir e habitar; com o historiador Luís Oliveira e o arqueólogo João Pedro Bernardes percorremos e aprendemos sobre os antigos caminhos, muros e valados; à noite com o contador António Fontinha e a arqueóloga Catarina Oliveira ouvimos lendas sobre os antigos medos nocturnos; com os pés na água apanhámos e aprendemos a conhecer os bivalves da Ria Formosa; já no final do Verão, com o historiador António Rosa Mendes e o Senhor José Roberto fomos colher figos, e compreender a sua importância, a par da amêndoa e alfarroba, na história e economia local; terminámos já em Outubro com um percurso geológico sobre alterações no uso e ocupação do território, orientado pelo geólogo Hélder Pereira.
Pela riqueza e diversidade de experiências que proporcionam, pela interrogação e diálogo entre os participantes e os guias especializados, pela descodificação activa do património e pelo contacto próximo com os valores culturais e paisagísticos, os Passos Contados têm conquistado os muitos participantes que se juntam nestes percursos de interpretação.




- Continuaram as visitas acompanhadas a Cacela Velha. Interpretar os testemunhos visíveis do passado, relacioná-los com a história da região, levantar hipóteses a partir de novos dados da investigação arqueológica, compreender as mudanças recentes na relação do homem com o território e os recursos locais, são alguns dos desafios das visitas que o CIIPC tem dinamizado para grupos, mediante marcação prévia.
As visitas dirigem-se a todos os interessados e são acompanhadas por técnicos do CIIPC, em português e inglês.

- A partir de Setembro e Dezembro, respectivamente, Cacela Velha e Vila Real de Santo António passaram a contar com uma forma diferente e dinâmica de descobrir a sua história, património e herança literária. Walking Poetry são percursos culturais que conjugam a descrição de pontos de interesse em Cacela Velha e Vila Real de Santo António, ligados à sua história e património, com textos literários e poéticos. Para fazerem esta viagem histórica e literária em Cacela Velha, os interessados podem dirigir-se ao ponto de entrega WP, na sede da ADRIP, onde lhes são entregues um mapa e um leitor MP4. Com ambas as ferramentas, podem fazer o percurso que inclui 8 pontos de paragem, ao seu ritmo, usufruindo do conhecimento e do prazer transmitido pelos textos históricos e literários escolhidos, disponíveis em três línguas (português, castelhano e inglês).
Em Cacela Velha, o percurso mergulha nas suas origens islâmicas, passa pela fortaleza, igreja, casa do pároco, casas da câmara, cemitério antigo, e detém-se sobre os poetas que escreveram sobre Cacela Velha ou aí viveram: Ibn Darraj, Abû al-‘Abdarî, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Teresa Rita Lopes, Adolfo C. Gago.

Conferências e congressos

- Apresentação da experiência do CIIPC na área da educação para o património no Encontro Serviços Educativos em Espaços Culturais, organizado pela AGECAL, em Lagos, entre 27 e 29 de Janeiro, com uma comunicação de Catarina Oliveira, intitulada "O território como espaço de encontro e comunicação. Experiências na interpretação do património em Cacela".
- Apresentação de poster intitulado Caracterização, procedência e significado dos pigmentos vermelhos utilizados nos monumentos megalíticos do Sotavento Algarvio, da autoria de Nuno Inácio et alli, no 8º Encontro de Arqueologia do Algarve que decorreu em Silves, entre 21 e 23 de Outubro.

Exposições

- Inaugurou em Abril, no CIIPC, com a presença do ervanário Mestre Salgueiro, da benzedeira D. Tolentina Pereira e de outros elementos da comunidade local, a exposição "Plantas que curam. Usos e saberes na medicina popular".

A exposição debruça-se sobre as antigas utilizações terapêuticas que as populações rurais têm vindo a desenvolver em torno das plantas. Gentes do campo e do mar acudiam a curandeiros ou a endireitas, em busca de benzeduras de afitos ou de nervos torcidos, dos quebrantos com maus-olhados ou das curas dos ouvidos, numa altura em que a crença era parte do remédio. A exposição recria uma antiga ervanária com as várias ervas utilizadas para a preparação dos tratamentos, uma casa de fogo - o local onde muitas das mezinhas eram preparadas e aplicadas e evoca os testemunhos recolhidos junto de ervanários, curandeiras e benzedeiras que ainda hoje detêm estes valiosos saberes.


Programação cultural em Cacela Velha

- Dias Quentes em Cacela
Este ano, as propostas para a Primavera e Verão fizeram-se de encontros e partilhas em volta das nossas heranças culturais, da nossa História e do nosso património. Integraram os Dias Quentes em Cacela, um programa estruturado, para continuar nos próximos anos, que inclui teatro, cinema, música, conversas, artes, poesia e passeios pedestres.

- Ciclo de teatro a_crescent/ARTE. Decorreu de 15 a 18 de Julho, no Cemitério Antigo de Cacela Velha, o 1º ciclo de teatro para a infância. Ao longo dos 4 dias foram apresentados os espectáculos: “O varredor de marés” pela Companhia de Teatro “te-atrito”; “Quando a Stella era muito pequenina” pela Companhia Gato que Ladra, que dinamizou também uma Oficina de expressão dramática; “Eu hei-de crescer e tu vais ver” pela companhia Al-Masrah; e a encerrar “A casa da imaginação”, pelo Teatro das Beiras.


- “Sob as estrelas em Cacela Velha”. No antigo cemitério de Cacela Velha abriu-se novamente o velho portão de ferro para dar entrada a quem, à noite, sob as estrelas, quis ver cinema. No dia 31 de Agosto foi possível assistir ao filme “Tarde demais”, de José Nascimento e, no dia 2 de Setembro, ao filme “Agosto” de Jorge Silva Melo. No dia 7 assistiu-se, em sessão dupla, aos documentários “Significado” de Tiago Pereira, e “Polifonias – Paci é saluta, Michel Giacometti” de Pierre-Marie Goulet. A terminar o ciclo, passou o documentário “Ruínas”, de Manuel Mozos.

- Ciclo de concertos “Clássica em Cacela”. A Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e a Associação Altela – Fórum de Cidadania organizaram este ano, uma vez mais, o ciclo “Clássica em Cacela”. Com um público mais fiel de ano para ano, contou com concertos no Cemitério Antigo e Igreja. Marcaram presença Gilberto Bernardes com um concerto de saxofone e multimédia, o Consort Renascentista “Ensemble Tons Parlantes” e a encerrar Adriano Sardinha, Catarina Rafael e Alena Khmelinskaia no clarinete, no violoncelo e no piano, respectivamente.

- “Palavras sobre a Ria”. Em Cacela Velha, no Verão, aos domingos, pelo final da tarde, com os areais e as águas da península de Cacela a servir de fundo, regressaram as Palavras sobre a Ria: para se falar de cabanas de pescadores e de arquitecturas efémeras no sotavento algarvio, no dia 13 de Junho, com Miguel Reimão Costa; de camaleões na Ria Formosa, no dia 25 de Julho, com Inês Teixeira do Rosário; e de tradições orais, com uma conversa sobre “A praga da tradição oral: virtude ou pecado?”, no dia 12 de Setembro com Carlos Nogueira.


- Pinturas de luz na Igreja de Cacela Velha. A reabertura de portas da reabilitada Igreja Matriz de Cacela Velha foi assinalada durante a noite de 13 de Agosto, às 21h30, com um espectáculo de Pinturas de Luz. A fachada da Igreja vestiu-se com imagens, padrões e grafismos iconográficos do património histórico e artístico de Cacela e do Algarve, juntando multimédia e novas tecnologias, num momento que pretendeu celebrar, através da requalificação patrimonial da igreja, o melhor da nossa herança cultural. A produção esteve a cargo da dupla de artistas “O Cubo – produções criativas” tendo sido co-financiada ao abrigo do projecto GUADITER.
Fotografia: Nuno Maya


- “Cacela ao Vento". Ventos dos quatro quadrantes, fortes ou suaves como a brisa… apontam direcções, sopram nas folhagens das árvores, nas ondas do mar ou nas velas dos barcos, agitam roupa nos estendais, elevam papagaios de papel… Em Cacela Velha, este Verão, o vento fez girar dezenas de cataventos, moinhos de vento, engenhos e esculturas. “Cacela ao Vento" valorizou a vertente tradicional destes patrimónios do vento com a colocação, nos telhados, de cataventos produzidos por latoeiros locais, e com a dispersão, nas zonas de jardim e próximo da ria, de moinhos de vento, caravelas e espanta pássaros construídos pela população, como os que observamos frequentemente nas nossas hortas ou apoios de pesca na beira-mar. No núcleo histórico da aldeia, valorizou-se uma dimensão mais contemporânea e criativa, com o desafio a artistas plásticos que conceberam esculturas cinéticas e sonoras que interagem com o vento.
No âmbito desta iniciativa e do trabalho regular que o CIIPC desenvolve com a comunidade educativa, dinamizou-se ainda durante as férias lectivas, duas Oficinas de construção de cataventos, moinhos de vento, caravelas, espanta-pássaros, um dirigido a crianças e outro a famílias.


- Poesia na Rua. Em Setembro Cacela Velha celebrou a poesia. Tendo como ponto de partida a herança poética de Ibn Darraj al-Qastalli, natural de Cacela onde nasceu em 958, bem como de outros poetas que escreveram sobre Cacela Velha ou aqui viveram (Abû al-‘Abdarî, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Teresa Rita Lopes, Adolfo C. Gago), “Poesia na rua” constituiu-se como um grande momento cultural em redor das palavras escritas ou ditas em voz alta, mas também de animação, de festa e de partilhas.
As ruas encheram-se literalmente de poesia durante os dias 17 e 18: haviam lonas com poemas nas paredes de casa e estendais com poemas pendurados com molas de roupa, disse-se poesia popular no cemitério antigo, falou-se sobre poesia no largo da fortaleza à sombra das palmeiras, leram-se livros de poesia nas confortáveis cadeiras da biblioteca municipal, que aí marcou presença, cantou-se poesia à noite no interior da igreja, crianças e jovens lançaram barcos de papel com poemas à ria, criaram textos em ateliers de escrita criativa e percorreram a vila no jogo da caça ao poema. No sábado à noite, os poetas presentes (valter hugo mãe, José Mário Silva, Carlos Mota de Oliveira, Teresa Rita Lopes e muitos outros) e banda filarmónica juntaram-se para recriar o ritual da Igrejinha ao ritmo de um poema, toque da banda e foguete. Tradições reinventadas para continuar nos próximos anos.


Edições

- Edição do Jogo de memória “Para que servem as plantas?” dirigido a todas as crianças e jovens com curiosidade e vontade de saber mais sobre os usos antigos da flora algarvia.
Sabias que as folhas da palmeira anã são utilizadas na arte tradicional da empreita para fazer alcofas vassouras e capachos? Sabias que a partir da cana se fazem os conhecidos telhados de caniço? Sabias que as ramagens da mariola, que floresce pelos campos da serra e barrocal algarvios, eram antigamente utilizadas como esfregão para a loiça? Sabias que a arruda era antigamente utilizada em defumadores para curar o “mal da lua” nas crianças e afastar o mau-olhado? São algumas das curiosidades reveladas pelas 18 cartas (em duplicado) que constituem o jogo.
A edição deste material educativo pela CMVRSA resulta do Projecto Educativo “Para que servem as plantas? Usos antigos da flora algarvia” dinamizado pelo CIIPC entre 2009 e 2010 com escolas de Vila Real de Santo António. Ao longo de dois anos as crianças saíram para os campos identificando as plantas e pesquisando junto da população local sobre os seus usos na alimentação, medicina popular, habitação tradicional e artes e ofícios. A informação editada tem por base as suas recolhas e são da sua autoria os desenhos das plantas que a acompanham.
É agora justo que estes antigos saberes sejam devolvidos à comunidade educativa e população em geral, para que de uma forma lúdica e divertida não caíam no esquecimento.
O jogo foi oferecido às crianças envolvidas no projecto e pode também ser adquirido pelo público em geral.

- A edição do “Roteiro à descoberta das 4 Cidades”, num CR-ROM e 4 mapas em papel dos concelhos e cidades de Fundão, Marinha Grande, Montemor-o-Novo e Vila Real de Santo António, assinalou o ultimo ano da acção educativa “Lugares e datas com estórias” dinamizada no âmbito do projecto “À Descoberta das 4 cidades”. Os textos, fotografias e desenhos que resultaram da pesquisa desenvolvida pelas dezenas de crianças e professores, que aceitaram este desafio ao longo dos últimos 3 anos, foram a matéria-prima para mais este material educativo

- Nova brochura sobre a história de Cacela. Ficou durante o ano disponível ao publico um novo material de divulgação sobre Cacela. Uma história com muitos séculos contada aqui a partir do legado cultural dos seus protagonistas: mercadores e piratas, pescadores e mariscadores, poetas e viajantes, mestres e pedreiros, mouros e cristãos, artífices e agricultores.
Exemplares disponíveis no Posto de Informação da Adrip em Cacela Velha ou no CIIPC em Santa Rita.
- Saiu em Setembro o nº 4 da Colecção Patrimónios: Contributos para a Construção da História Local da autoria do Professor Hugo Cavaco. Este novo Caderno Escolar, o nº 2, procura, nas palavras do autor “adicionar mais uma pedra para a composição do “puzzle”, que é como quem diz, aportar mais uma achega no sentido de melhor entendermos o “tabuleiro da história vila-realense. Desta vez “saltámos” o Estreito de Gibraltar, “comprometemos” a República com os Feriados Municipais, “fomos ouvir” as badaladas de outros relógios públicos (sobretudo em dias de tempo Levante), e aproveitámos para “visitar Feiras e Mercados do Concelho.”

- Também em Setembro saiu o esperado nº2 da Revista VRSA, a cuja edição a equipa do CIIPC tem estado ligada desde o primeiro momento. O Marquês de João Cutileiro, Mestre Germano, Plantas de Cacela, Monte do Pomar, Ibn Darraj, Arquitecto Manuel Gomes da Costa, a Casa da Câmara, Histórias de Cacela, Trapologia de Teresa Patrício, Poemas de Carlos Brito, Ensaio de Fernando Esteves Pinto e Crónica de Teresa Rita Lopes, são alguns dos destaques deste número.

Outras actividades de valorização dos saberes e produtos locais

- IIª Mostra Gastronómica de Cacela “Entre a serra e o mar”. Organizada em colaboração com a ADRIP, a 2ª edição da mostra decorreu durante o mês de Junho, com o intuito de valorizar saberes e sabores do território de Cacela, entre a serra e o mar, e de promover produtos locais e tradições alimentares em receitas antigas ou novas criações. A mostra foi apresentada no dia 2 de Junho no Antigo Casino da Manta Rota e contou com uma palestra sobre tradições alimentares no sotavento algarvio pelo Professor Doutor António Rosa Mendes, apresentação das ementas pelos restaurantes e prova das ementas e de vinhos algarvios.

- Também em estreita colaboração com a ADRIP, realizaram-se mais quatro Mercadinhos na Primavera, Verão, Outono e Natal. Artesanato tradicional, novas criações, produtos locais, velharias, trocas & baldrocas e muita animação de rua, foram assinalando o passar das estações nas ruas de Cacela Velha. No Mercadinho de Natal, destaque para a grande Árvore de Natal, no cimo da cisterna, reutilizando dezenas de lonas de divulgação, concebida pelos artistas plásticos Albio Nascimento e Kathi Stertzig e executada com a colaboração de alunos da EB2,3 de Vila Nova de Cacela e de jovens do projecto “Escolhas Vivas”.


3. EDUCAÇÃO PARA O PATRIMÓNIO

- A plantação de jardins nas escolas com ervas e arbustos da flora local, a edição de um jogo de memória e a exposição "Plantas que curam. Usos e saberes na medicina popular" marcaram o último ano do projecto educativo: “Para que servem as plantas? Usos antigos da flora algarvia ” que envolveu mais de duas dezenas de turmas de escolas do 1º e 2º ciclo de Vila Real de Santo António.
Foi o culminar de um projecto que envolveu a apresentação de um diaporama e sessões de contos na escola, saídas de campo para reconhecimento das ervas, realização de herbários, e oficinas durante as férias e plantação de jardins. O trabalho de pesquisa desenvolvido pelos alunos foi devolvido à comunidade com a edição de um jogo de memória e de uma exposição, patente no CIIPC durante o ano.

- Já de olhos postos no futuro, está em preparação o próximo projecto educativo: “O que comiam os nossos avós? A alimentação no Sotavento Algarvio”. Que influências deixaram romanos e árabes na nossa cozinha? De que forma o que comemos se relaciona com os recursos disponíveis no território e a sua exploração? Que trocas de produtos se estabeleciam em tempos idos entre os pescadores do litoral, os camponeses do barrocal e os montanheiros? Como é que a sazonalidade e o ciclo agrícola marcava a alimentação ao longo do ano? Como se conservavam os alimentos do mar e da terra? O que se comia e como se comia nos dias festivos (o Entrudo, a Páscoa, os Santos Populares, o Dia de Todos os Santos, o Natal,…)? Como eram as nossas cozinhas, como que se cozinhava no lume de chão junto à chaminé e o que se cozia no forno de lenha? Que recipientes e utensílios se utilizavam para a preparação dos alimentos e às refeições? O que resta do nosso antigo receituário na memória dos mais velhos? São algumas das questões a que crianças, professores e familiares procurarão dar resposta ao longo dos próximos dois anos lectivos.


- Ainda no durante o Verão, realizaram-se “Oficinas de Arqueologia” no exterior do CIIPC em Santa Rita. Numa caixa arqueológica com estratigrafia e artefactos arqueológicos de diversas épocas, crianças e jovens transformaram-se em pequenos arqueólogos utilizando as ferramentas e técnicas da profissão. Continuaram a actividade com as fases de registo arqueológico (caderno de campo, desenho, fotografia); e tratamento dos materiais (lavagem, desenho, restauro, fotografia).

- Numa lógica de alargamento das nossas actividades a novos públicos, o CIIPC intensificou a colaboração informal que vem mantendo desde 2009 com a ASMAL – Associação de Saúde Mental do Algarve na recepção de grupos e seu envolvimento em actividades de educação para o património. Ao longo de 2010 realizámos com eles oficinas de fósseis, visitas e limpeza de sítios arqueológicos, oficinas de arqueologia, construção de cataventos, recolha e identificação de sementes da flora autóctone, apanha de bivalves, entre outras actividades.
- Colaboração em projectos da DREA e DRCA. O CIIPC mantém-se como um parceiro activo do projecto PREA (Programa Regional de Educação Ambiental pela Arte) “Contos do Mago”, iniciativa da DREA, através da preparação e orientação de percursos sobre o património natural e cultural no território Cacela, para os professores envolvidos. Iniciou também colaboração com o Concurso Escolar “Da janela da minha escola… vejo um monumento”, uma iniciativa da DRCA e da DREA, através da orientação de visitas a Cacela Velha, com as turmas do 1º ciclo envolvidas.

4. TRABALHO EM REDE

- O CIIPC, enquanto núcleo estruturante do futuro Museu Municipal de Vila Real de Santo António (em projecto), integra desde 2008 a Rede de Museus do Algarve, tendo sido eleito em Setembro de 2011 para o novo grupo coordenador da Rede.
Colaborámos durante o ano na concepção e dinamização exposição “Vila Real de Santo António e o Urbanismo Iluminista” que integrou a exposição polinucleada “Algarve – Do Reunião à Região”, e contribuímos entretanto para a fundamentação da proposta do novo tema a ser trabalhado conjuntamente pelos Museus da RMA “Pioneiros do conhecimento científico no Algarve” ao longo de 2011 e 2012.
O projecto incidirá sobre a geração de intelectuais, que emerge entre o último quartel do séc. XIX e a implantação da Republica, que procuraram através estudo da cultura popular – entendida como essência da nação – esclarecer e fundamentar os contornos da identidade do país. Pretende-se proceder à identificação e estudo dos protagonistas implicados no conhecimento da região (percursos biográficos, obras, colecções); à investigação sobre representações do Algarve e dos seus municípios, nos discursos da etnografia, arqueologia e história local; bem como explorar áreas temáticas ligadas a práticas, representações, expressões, conhecimentos e competências técnicas no âmbito do Património Cultural Imaterial (tradições orais, arquitecturas, saberes e técnicas tradicionais, festividades,…).

- Também numa lógica de trabalho em rede, o CIIPC colabora com o Projecto “Técnicas Ancestrais, Soluções Actuais (TASA) (Cultura Intensiva), na identificação de artesãos, na investigação ao nível do património e cultura tradicional e preparação de textos temáticos para plataformas de divulgação do projecto (blog, website, catálogo).

E por último, porque os livros que mexemos e as palavras escritas fazem parte do património de todos nós, o CIIPC encetou uma colaboração com a Biblioteca Municipal Vicente Campinas (VRSA) e a ADRIP com vista à dinamização do Clube de Leitura “Livros mexidos”.